Depois da chuva



            Foi um dia chuvoso – tão chuvoso quanto um dia poderia ser. E eu deitada na cama, semanas atrás, reclamando da falta de umidade no ar. Foi preciso menos do que alguns pés encharcados pra me arrepender de determinadas vontades. Na confusão das noites insones, esqueci-me de que a época das chuvas coincide com as decisões importantes da minha vida. Tá explicado.
            Setembro é sempre um mês de mudanças. Não digo só por causa do meu aniversário. Trocar de idade é um evento importante, mas importante mesmo é o que a gente faz com o número a mais que ganhou. Tenho um ano pra fazer jus aos meus 22; um ano começando da chuva da semana passada.
            Saí do quentinho da garagem e de repente era setembro. Precisei recapitular como funcionam o limpador de para-brisa, o desembaçador e a cautela. Parada no semáforo, mal pude ver quando o vermelho virou verde. Fiquei estacionada ali, esperando qualquer coisa que me despertasse do The Verve do rádio. Foi o carro de trás, que, perdendo a paciência, passou por mim cantando pneu. Idiota. Quem é que disse que sinal verde foi feito pra se passar? Eu precisava mais do que uma luz pra tomar coragem de pisar no acelerador e me esquecer de toda a dificuldade que iria vir. No rádio, era minha voz que cantava: All this talk of getting old, it's getting me down, my love.
           Naquele dia, percebi que eu pesava muito mais do que um 2 + 2.

[Texto de 2010. Desenho de nem lembro mais]

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