A gente acha que vai morrer, mas não morre.
A gente só morre de morte mesmo; a gente não morre de mais nada.
Gangorra
Do outro lado, alguém sempre mais leve. Olhando de cima com um sorriso no rosto. E você do lado oposto, embaixo. Afundada. Sapatos sujos de terra, joelhos arranhados no chão. Sempre descida na outra extremidade do brinquedo - querendo saber o que carrega de tão pesado assim por dentro.
Bip
É
lá onde eu amo que eu existo. Pouco importa tempo, forma ou dor. Sempre
vai doer. Se é mais ou se é menos, é amor de qualquer jeito, do que sou
feita,
do que vou me sustentando, despertador que toca todas as manhãs na minha
cabeceira e eu sinto uma preguiça danada de me esticar pra dizer que
sim.
Ela chama, eu levanto e vou.
Ela chama, eu levanto e vou.
2014
Cheguei em 2014, e você já percebeu. Não falo de primeiras vezes. Falo de mim
toda aqui pronta pras idas e vindas, subidas e descidas, derrotas,
perdas, inícios e fins. Eu estou no alto agora. Eu estou no
topo do mundo e só você enxerga a minha plenitude. Mas o que eu vejo quando
olho para baixo é abismo. O que eu sinto quando olho para baixo é
vertigem. Não me diga do meu lugar, o meu lugar sempre foi fora de mim. Não me acostuma esse gosto de nuvem.
Meus pés nus gostam de pisar teu assoalho frio.
Caminhos
Eu abro caminhos sem saber que serventia terão no futuro. Ligarão o quê ao quê?
Abro caminhos sem saber se estou
asfaltando antigas estradas ou inventando novos chãos. Não pergunto: sigo, faço. Nem sempre é assim. Abro caminhos sem saber da minha
própria direção, porque meu destino é desamparado. Tudo é lazer, tudo
é trabalho. Não escolhi uma vida com décimo terceiro, sei o peso
de caminhar fantasiada de primeira vez. Abro caminhos a esmo. A verve
transborda nessas temporadas cheias de ausência de amor. Quando vier,
teremos muito espaço para nos perder, imagino. Bobagem. Não há preparo. Eu não trabalho na perspectiva das
estações. Nada me garante que haverá sequer um outono.
O meu corpo é o caminho mais longo que já abri.
O meu corpo é o caminho mais longo que já abri.
"Eu queria saber o amor"
Santo Inácio de Loyola dizia que o principal para meditar é “saborear internamente as palavras”. Estou até agora saboreando as palavras do narrador de “A Partida do Audaz Navegante”, de Guimarães Rosa. Eis o que ele me falou, sobre o amor inocente e doce de Zito e Ciganinha:
“Eles se disseram, assim eles dois, coisas grandes em palavras pequenas, ti a mim, me a ti, e tanto”.
Essas palavras desnudaram em mim um lugar que eu desconhecia. E pronto.